quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Crime ABC

O rascunho; um tiro.
Arte final; um tiro.
O tamborilar frio dos 5 dedos na mesa
E o maxilar deslocado pelo soco da idéia abortada -
Sangue.
O lixo entupido de papéis riscados e amassados e mortos.
A narina de quem quer produzir e não consegue
entupida de papéis jogados fora descarga abaixo -
Bandido.

A boca torta e deformada
daquele que viu tudo de longe e não consegue falar o retrato,
mas desenha o lugar.
A polícia inicia a busca do cativeiro
Das vítimas da mente de quem pensa demais.
Chuva na cara de quem não sente nada,
Mas devia sentir -
Foragido.
Procura-se o dono do espirro
no lencinho de papel
Que entupiu a pia da casa
e matou as idéias afogadas
No lodo.

Rastro das pegadas na grama do jardim secreto.
A cena do crime.
A perícia se aproxima e examina o cadáver de olhos abertos -
Gelado.
O laudo confirma o estrangulamento e duas balas certeiras
No peito do papel.

ASSASSINO! -
gritou um velho pela janela ao ver a reportagem no jornal das oito,
Enquanto as possibilidades pulavam aflitas
na cama elástica de quem pensa demais.
As fotos das idéias mortas vazaram pela internet,
Comovendo e chocando a sociedade boquiaberta:
A passeata pela paz vai ser domingo, na orla.
Estado de sítio em que todos com caneta e papel eram suspeitos
de integrar a máfia
da chacina das pobres idéias indefesas e órfãs.

O luto e a dor da perda,
Rezando para que seus espíritos subam em paz,
E reencarnem em novas formas
Como todas as idéias fazem
Quando são abortadas antes de serem passadas adiante,
E, só então, se tornarem imortais.

A esperança de dias melhores
assoprava a cara de quem sentia tudo,
mas não devia sentir.
Enquanto isso, um homem bandido, procurado, ameaçado e foragido
Aproveitava um dia perfeito de Sol na Grécia
Com caneta e papel no bolso.
E com uma cicatriz estranhamente bonita no maxilar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Exercício # 4 - Perguntar

Liebe Frau,
Você que já conseguiu o que eu quero conseguir,
Seja minha mentora por pelo menos um dia,
Assim... de boa.
Só pelo prazer de ver alguém vencendo também.

A coragem é filha da fé, eu sei.
E, pelo que ouvi, o parto perfeito é normal só com o exercício pré-natal.
O play do tempo útil para não perder tempo capinando o mato de ervas daninhas
é mesmo play glorioso delegado a quem vive de biomassa.
Festas aleatórias surgem do nada quando eu me arrumo sem pensar no destino.
O caráter demora muito para ser construído, e basta um segundo para ser destruído.

Eu sei, eu sei, eu sei.

Antes só olhava, com medo de parecer necessitado.
Medo da rejeição -
do não que vinha da própria boca
como um arroto involuntário
do inconsciente que não se dá uma chance de correr o risco.
Agora eu pergunto e sei que a resposta será dada.
Num estado poderoso, com clareza e especificidade
dignas de um fino vidro que não tem medo de quebrar.
Confiança é tudo.
É o não derretido nesse shake do sim
Enquanto eu digo próximo
para uma das 6 bilhões de pessoa
que espera a exata proposta que te faço agora.

Liebe Frau,
Liebe Frau,
Te peço com o coração,
Te peço repetidamente,
Você que já conseguiu o que eu quero conseguir,
Só pelo prazer de ver alguém vencendo também,
Assim... de boa,
Deixa eu ser teu aluno por pelo menos uma noite.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Exercício # 3 - Foco

O todo é fosco,
O ponto é foco.
O todo fosco contém o ponto foco
Que contém os foquinhos
Que deixam o foco perfeito.
XIS

O todo é meio.
O foco é certeza.
O meio é a certeza de saber que o que quer
É a tênue linha do pensamento
Que liga os pontos do futuro ao presente.

O todo é caminho.
O foco é atalho.
O caminho pode ser tão atalho
Quanto o atalho é o mesmo caminho, por analogia.
Quem tem foco, tem calma.

O todo é o alvo.
O foco é o dardo.
O alvo de dardos finitos e caros,
Que sabe negar o bom,
Para aceitar o ótimo:
100

O todo é mar.
O foco é rio.
Rio que produz para frente até desembocar no deserto
E evaporar
E voltar para onde nunca deveria ter saído:

para os foquinhos que contém o foco perfeito, ligando calmamente o pensamento do 100 futuro com dardo voando certeiro no presente.

O todo é foco.
O foco é tudo.

domingo, 27 de abril de 2008

Conspiração

Quando for falar com a gente,
Fale bem baxinho
Para eles não escutarem
Por que a gente os odeia.

Se for olhar pra eles, aponte
E ria.
Continue a apontar
Se eles perceberem.
E continue rindo de degosto
pelo canto da boca
Até eles darem as costas, desolados.

Quando for falar com eles, grite.
E olhe sempre de cima,
Como quem olha aquela formiga irritante
Que matou de propósito
Para poder ter paz.
Responda e responda,
E fique com raiva
E os empurre e os olhe cair,
Sem sequer demonstrar aquela obrigação altruísta da pena
Dos vermes rastejantes.

Se esbarrar, encare.
E se eles encararem de volta, fuzile
Até eles perceberem que são inferiores
E darem as costas como tais.
Se ganhar, esfregue na cara deles;
E se perder, roube o prêmio
Para eles não esquecerem quem é que manda aqui.
Gaste a saliva para cuspir neles;
E gaste o cuspe a vontade para não precisar vomitar
Quando os ver novamente
E lembrar do quão repulsivos eles são.

Se algum deles encostar em você, espanque-o
Sem medir a intensidade dos socos naquelas aberrações.
E se eles tentarem se vingar,
Nós o protegeremos desses vira-latas
Com uma surra que eles nunca viram igual!
Quem mandou nascer...
E quando eles não fizerem nada, com medo, provoque-os
Para que possa ter motivo para destruir suas fuças
E ajudar a seleção natural da natureza.

E depois, quando eles estiverem destroçados,
Volte aqui para falar com a gente
Mas fale bem baixinho,
Para eles não escutarem
Que eu preciso saber
Por que a gente os odeia.

sábado, 26 de abril de 2008

Exercício # 2 - Reconhecimento

1.
Mumu, nenê engatinha - pabamata - mama, papa, cozinha.
Buá, andar, cair, correr, pular, vestir.
O dente de leite e a fada no travesseiro - bicicleta com uma rodinha, sem rodinha, fazer fogo como escoteiro.
Cartinha da tia legal, desenhos bonitos, caligrafia; nota boa no CA, disputado no arraial, feijão com miojo antes da natação todo dia.
Orador da formatura, colégio de gente grande, chinelo da Turma do Arrepio, merendeira do Alladin; sempre a maior estatura, basquete e taekwondo, livro do elefante rosa em folhetim.
Andar sozinho de ônibus com 7 anos, 7 girinos no sítio e achar o caminho de volta no escuro; patins na Lagoa, trem fantasma do Tivoli, álbum do Cavaleiros do Zodíaco completo, cortar os cachos na barbearia não mais inseguro.

2.
1ª comunhão, mato desbravado sem medo da cobra-coral, biscoito roubado pro irmão de castigo; menor desacompanhado para Corumbá, pescar piranha com lata de óleo, pular do trampolim sem frio no umbigo.
Super Bu nos quadrinhos, carteira falsificada pra matinê, primeiro beijo, festas de 15 anos com terno do tio; Turma Especial no Martins, 13º de 13 mil em Edificações, Signo e a Tulipa de Cristal por um fio.
Moicano, Brecht no teatro, Noção de Nada, Luisa; rebite, all-star, aula de canto, Thursday na camisa; Black-power, terapia, 7,5 na final de Física; Empório, Matriz na quinta, vencedor do concurso de melhor poesia, triângulo do Fernando e da Taissa.
International public speaking competition, orador da Cultura, 5 intensivos de alemão; UFRJ, Uni-Rio, UFF, PUC, escrevendo o livro, calouro, melhor redação.

3.
Defensoria criminal por um ano, amizades do quarteto e do IV ONU Jr, Revista Histórica, direção de imprensa do Centro Acadêmico, jornais e reuniões; relacionamentos e rupturas, sussurros e verdades, sexo e paixões; projeções.
Escritório, espanhol, proficiência, PNUD, dedicação, clarividência; morando com o pai, mãe e ajudando a bisa em depressão nos finais de semana, curso de interpretação pra Tv, rato de academia - auto-suficiência.
4 meses em Nova York, encontros e reencontros em Londres, MacBook, transparência, Lívia, Luise e Raissa; Brasília, UnB, distância e proximidade, início e novidades, diplomacia e justiça.

Obrigado.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Exercício # 1 - Responsabilidade

Cortei a sinapse da amnésia com uma tesoura de cortar frango e esqueci que o dia tinha 24 horas dentro dessa redoma que chamamos de vida.
Vamos viver.

E esquecer que num tempo, num remoto tempo, o chão era o limite
Por trás das mentes dos arquitetos, que transformam pensamentos em monumentos;
Eu também transformei.
E assumi 100% de responsabilidade pelas idéias que botei no mundo e em minha vida.
Culpa e reclamação não alimentam nossos filhos, amor;
Vamos recriar.

O sinal amarelo só volta a ser verde depois do vermelho se aceleramos -
O que acontece não são os fatos, são as nossas respostas aos fatos.
Então empurro sua zona de conforto até o máximo,
com meus dedos controlando seus desejos incontroláveis,
Na saudável passividade que transforma a potência em ato.
Vamos ousar.

Feito um jogo de tabuleiro que encontra o acaso a cada carta de sorte e revés,
é a gravidade que sempre existiu e ninguém contestou.
Porque reclamar com a pessoa errada é esperar de braços cruzados
ante a premissa do não da perda e do sim do ganho.
Vamos ganhar.

E fazer do inconforto um hábito
Para assumir a responsabilidade da tesoura de cortar frango
que traz o conflito dos cortes imprecisos.
Eu me cortei.
E só assim descobri que nossos filhos criamos pro mundo.
Agora, sim,
Vamos brincar.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

2000

É a nova sensação de domingo a tarde.
ARQUIPÉLAGO DO URAL.

E a família fica se perguntando onde diabos enfiou o controle remoto.
As frestas do estofado estão cheias de pipocas.
A síndrome das pernas inquietas é sinal de insônia:
FICAMOS DOIS DIAS SEM DORMIR.
E dai?

Canhoto suando com abridor de lata.
Peixinho boiando e celular afundando na privada.
Hoje em dia todo mundo tem celular.
Tem analgésico também.
PROTETORADO DE PORQUINHOS DA ÍNDIA.
As iguanas domésticas também merecem.
Mas nunca vão ter.

Coroa de brilhantes na balada.
Soco inglês na bolsa, junto com a chave do carro.
Diplomacia só com o flanelinha e com o policial.
Por que cargas d'água rabanada só tem no natal?
GOIABAS BRANCAS DE SOBREMESA.
Pirulito de coração na boca.
Te amo pra sempre.

Teia de aranha no canto do porão.
Jogo hi-tech: home theater
Com guitar hero e dance dance revolution até o corpo cair.
Kit de primeiros socorros não é mais obrigatório no porta-luvas.
POMO DA DISCÓRDIA.
Mais doce que o doce de batata doce.

As vitrines mostram manequins sem cabeça.
O caminhão de limpeza apaga as pegadas na areia.
Fecha o vidro porque o malabarista se aproxima.
E a inflação do papelote dói no bolso do freguês.
UNICÓRNIOS EM EXTINÇÃO.
O vaso de violetas falsas cai da janela.

E os olhos hipnotizados pela nova sensação de domingo a tarde.
Vontades e mais vontades que dão e não passam.
Fogos de artifício que duram vinte minutos.
Uma vida dura vinte minutos.
CUIDADO: CÃO FEROZ.
Feliz ano novo.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Epitáfio (ou Arte)

De todos os quadros,
suja a mão com o mais incolor.
As pálpebras se fecham
Na coragem de sair do preto e do o branco
se perdendo entre as infinitas tonalidades do cinza;
Os pássaros voam singelos pela ilustração
de aquarela sem detalhes;
Os detalhes são acabamentos,
mas a vida não acaba...
A vida continua por entre os corpos caídos,
por entre os pincéis e as palhetas caídas,
E pela tela levantada pelo cavalete troncho,
pelas cores que escapam da mão calejada
e voam para longe,
mais longe do que qualquer gaivota possa sonhar.
A monotonia monocrômica das pegadas
atinge o silêncio do farfalhar desesperado do carvão
gritando no papel de algodão,
gritando por querer se descolar dali
E agonizar feito barata tonta
No ateliê da vida.
Ó imagem,
Que encontra beleza no grotesco,
E açúcar no falso,
Misturando os sentidos nessa sinestesia podre,
Que de tão podre,
Todos querem provar.
O risco da tinta é um pedaço do corpo que sai
e não volta mais.
É o apreço da natureza morta,
do sorriso morto, mas inexorável
pigmentos mortos, mas inexoráveis -
É o sangue que de tanto ser doado no afresco,
Mata com a insatisfação de sempre querer produzir mais.
A segunda chance do óleo
é a primeira chance de acrílico,
Olho de resina na parede branca,
Olho de rapina no ecrã vazio,
Que faz os grávidos de arte
Vomitarem no chão
E nadarem na bile
Esperando a piracema da inspiração
Que só vem com a prática de ir contra a correnteza.
Que às vezes nem vem,
Mas mesmo assim o prenho fica ali
Parado
Docemente parado
Com as rugas da ansiedade
que o café só piora.
Com o corpo rasgado pelo fino cobre
que modela e espreita a carcaça de quem quer criar.
Porque criar é a corda-bamba
entre a vida e a morte
entre o céu e o inferno
Da cabeça de quem cria.
Se matando por matar quem o mata
no suicídio em cadeia
Desse jardim multicolor
que suja a mão e a alma
E ressuscita aquele quadro,
Dizendo no epitáfio bem grande para todo o mundo ver:
"Jaz aqui aquele que se perdeu entre as infinitas tonalidades do cinza
E não soube se encontrar".
Bem-aventurado seja.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Mosca

Uma mosca presa no meio do cubo de gelo.
Sou criativo.

Chupo o gelo esperando mascar o inseto de chicle e fazer a maior bolha do mundo estourar no meio da fuça;
Agora os prismas do olho de mosca na minha retina deformam a córnea até a cegueira da venda se tornar confortável.
Amarrado na cama e nu; e sozinho
Esperando que as asas de mosca me façam flutuar como você consegue.

Saia do banho,
Pra lamber esses pêlos de mosca no meio do meu peito-de-pombo
e matar esses micróbios um-a-um com seu chicote,
Arrastando o gelo até a mosca se desprender daquele frio prazeroso
pra chegar aos meus ouvidos com aquele sussurro dos infernos,
Que não me deixa dormir sossegado -

Eu quero você ao meu lado
pra poder te destroçar melhor, mosca.

Acendo a luz
porque eu preciso olhar nos teus olhos e me ver refletido em cada losango
Assim como você está nessa úlcera em minha pele-de-vulcão.

E quanto mais te coço,
mais você pede pra eu te coçar mais.
Na inércia do movimento acelerado,
Acelero as mãos no momento final
para te atingir e te render em meus dedos,

Oh, mosca,
Fique bem.
Agora presa no cubo de gelo da minha saliva,
Enquanto eu me visto novamente.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Primeiro Encontro

O primeiro encontro bebendo na praia sobre a luz da lua.
Nós dois.
Queria te falar sobre os dias que passavam na caverna.
Mas seus olhos não deixavam.
Em cada piscar seu, uma eternidade.
E nas intermitências, eu ficava pensando se era em mim que você estava pensando.
Eu estava pensando em você.
Eu sempre estive pensando em você.
Bem, estive pensando em mil coisas também.
Minha mão tímida achava que estava certa até seu toque me fazer duvidar dos meus limites.
O copo enterrado na areia.
E a areia grudada na superfície molhada.
Eu olhando a cadência sem sentido das ondas.
Você me toca no rosto e o suja com areia da ponta dos dedos.
Eu te olho no fundo dos olhos.
E você me olha de volta.
Eu rio mesmo sem achar graça de nada.
Eu achei graça de tudo.
E você me sorri de volta.
Com um sorriso que só você tem.
Você e as mais lindas estrelas das mais lindas galáxias do mundo têm.
Eu olho pro lado perguntando o que fiz pra te merecer ali, assim.
Sorriso no canto da boca.
Boca que achava que sabia sorrir de verdade antes de te ver, assim.
Nós dois.
Mão no quadril, espalhando a areia por dentro da roupa.
Aproximo meu corpo do teu.
O rastro da distância entre seu mundo e o meu fica marcado na areia.
Você toca meus lábios e os suja com areia da ponta dos dedos.
Eu te olho no fundo dos olhos.
E você me olha de volta.
Eu sorrio com o fundo da minha alma.
E você sorri de volta.
Eu encosto meus lábios nos seus e os deslizo pelo seu queixo para limpar a areia, devagar.
Os grãos caem sobre seu colo, onde minhas mãos voltam a perder a certeza como se perdesse os meus limites no meio do mar.
Pressiono sua nuca sobre a minha com meus dedos sedentos.
Bagunço seu cabelo e seus cachos derretem nos meus dedos sedentos.
Você se afasta, me desafiando a ir ao seu encontro de novo.
Eu rio mesmo sem achar graça de nada.
Eu acho graça de tudo.
Vôo em sua direção como que dando um bote em sua boca perfeita.
Seus braços me agarram com força e me rodam pela areia, sujando nossos corpos.
Você me olha no fundo dos olhos.
Eu te olho de volta.
Eu afasto minha nuca da tua esperando a reação.
E por uma fração de segundo, tive certeza que era em mim que você estava pensando.
Meus lábios mordem os seus pelo canto, devagar.
Te aperto e te faço rolar de novo.
Você me beija com força.
E eu te beijo de volta.
Nossos corpos juntos.
E o beijo que demora e derrete a luz da lua sobre a praia.
Sobre nós dois.
Bem, eu estive pensando em mil coisas também,
Mas, agora, todas elas se resumem a nada mais que esses sonhos de você e eu.
Nós dois juntos.
E o copo enterrado na areia..

domingo, 20 de abril de 2008

Amém

Olha onde eu cheguei sem saber dirigir.

Esse campo em que as bromélias se escondem,
Eu guardei pro dia do juízo final, lá no fim do arco-íris
Estou eu, nem tão são, nem tão salvo,
mas boiando num mar de incertezas
que a idade trouxe
e esqueceu de levar.
"Só naufraga quem ancora", diz o papa ao mal-aventurado,
como eu,
Escondendo a espada dentro da cruz
e esquecendo de dizer em qual estufa plantei meu coração
regado com a água benta
E que já deve ter desabrochado, coitado,
E eu nem estava lá pra ver
O náufrago das bromélias no arco-íris de incertezas.

E pensar que eu nem sei dirigir...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vento

Assoprei a água pelo rio sem fim
E as ondas do círculo dos círculos abriram a veia dos meus ancestrais
Como a brisa-tufão que cuspi dos meus lábios;

Era você.

Beijei sua boca com batom-de-carvão da carne viva e queimada
Pelo meu fogo já apagado, mas que ainda arde.
Ora, que besteira, fogo não pensa, só sente.

Eu te sinto.

E te aumento pelos dedos que lambem as ásas dos pássaros
Parados -
Enquanto o mundo é que corre para que eles plainem inertes.

Eu sou vento.

E já que ninguém me alcança,
Deixa eu te alcançar sem que você perceba,
Trazendo a doença e a cura do furacão desse desejo em movimento suspirado por mim nesse rio sem fim:

Eu quero só você.