domingo, 31 de dezembro de 2006

no fio da navalha

parabéns aos glutões de Descartes
que, depois da primeira grande guerra,
apenas miram evidências tortas de 1929,
enquanto eu e Kierkegaard somos moda em Burkina Faso
antes mesmo do amendoim estourar.

buscando as riquezas do nirvana em Caxemira,
parabenizo o impulso cego de Schopenhauer,
responsável pela verdade irracional,
que vagueia pelo corpo em meditação,
assim como eu vagueio pela Copacabana de Vitrúvio.

apesar de não saber o alcorão de cor,
já reli Khaled Hosseini mais que a França,
e acho que esmaguei baratas na Biblioteca do Congresso,
porque me entediei ao andar no fio da navalha
e buscar o imortal que sempre esteve aqui.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Jazigo Perpétuo

Esses sulcos da tua mão na minha
Me ensinam a não me sentir arrependido
Por não estar ao teu lado agora;
Desculpa.
Achei que pudesse conter a depreciação
da pele com meus abraços sinceros.
Por que me sinto impotente?
Olhar para seu semblante esmilinguindo
na caixa preta dos meus sonhos...
É a vida que não quer acordar;
Mea culpa.
Nada restou do crochê talhado no sofá,
porque não escutei teus conselhos e parti,
mas sempre quis tuas rezas.
Sou teu anjo caído.
E no céu dos céus
Agonia de você ser areia
Sabendo que pode escorrer pelos dedos
dessa árvore que você plantou em mim
e que ainda não consigo ver nenhuma flor
A não ser a sua;
Obrigado.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

1984

Sua distopia entrou naquela caixa que deixei na rua.
A estupidez coletiva me entupia os poros.
Falsa esperança ainda é esperança para uma alma satirizada.
Sua falsa moral já foi captada há tempos pelo Grande Irmão.
Poder de elite é poder de carências.
Prefiro admirar o mundo novo a visitar seu Ministério da Verdade.
O canto cego do foguete é aconchegante.
Estar só é muito mais que estar sem você.
Duplipensei a liberdade escravizada, não preciso dessa dúvida em mim.
Joguei de escanteio o que não tem a ver comigo.

Você não me conhece.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Música Para O Silêncio

Tenho-te em uma pequena caixa de música,
Minha bailarina de celofane.
Criei tuas legendas e depois as engoli,
Para que só eu pudesse te entender.

Mas teu sorriso é o grito mais ensurdecedor.
E eu só queria te falar o quão belos são os teus cabelos compridos,
De passos leves e tenazes...
Conversar quando as paredes não puderem mais respirar.

Sapatilhas que me arranham,
E o olhar dissimulado que cava buracos em meu rosto cansado.
Arranque meu coração, ó bailarina!
Mas não destrua o véu que nos separa – te quero intacta.

E nesse jogo de tentar te proteger,
Eu perco meus dedos e fujo para aquele labirinto sem saída
Mas tua melodia já está em meu sangue,
Ecoando até nas garrafas vazias pelo chão.

Então vá,
Te liberto para me encontrar.
Te esqueço para me lembrar.
Está tudo regurgitado – tuas legendas, teus cabelos, tuas sapatilhas e meu erro:
Só amava o amor que sentia por ti.

Agora me deixe sozinho,
No meio dos escombros das paredes
Do mundo perfeito que eu tinha inventado para nós.
Era tudo falso.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

entre flores e febres

Me moestre a ternura dessas noites geladas de terça-feira.
Aqui, agora, nada me impede de abraçar o caos
Porque entre a água e o óleo
Jaz a calma esquecida.

Me leve para o inferno paradisíaco do amor engaiolado
Na estratosfera subcutânea de quem vive perdido.
Porque ente o zero e o um
Jaz o estampido do fim.

Me esqueça nesse jardim de paquidermes
De memória falida, de pele fina como balão.
Porque entre o caule e a raiz
Jaz o maior peso do mundo.

Me deixe afogar no vaso de cactus retorcidos
Pela fonte seca do teu amor, à deriva dos meus próprios tubarões
Porque entre as ondas e a areia
Jaz minha piscina-rasa efluída.

Me assista cantar meus segredos de banho-frio
Para regar o sertão escaldante
Porque entre flores e febres
Jaz o silêncio que é minha vida.

domingo, 3 de dezembro de 2006

Karma Prisão

Meu karma me prendeu na rebelião dos ossos.
Mereço o que tenho, mereço esse peso.
Ninguém engana os ratos do passado
Atrás dessas grades de chumbo,
Meu karma fareja meu medo
Enquanto não o vencer.

Tentei apagar os vestígios da dor,
Mas seremos sempre os mesmos -
Marcados por números na testa
Desde a fila para a festa da morte.
Estamos todos marcados por algarismos sem sorte
Que o karma conhece de cor.

Escavar foi voar sem asas
Pelas pedras em que meus pés racharam
Rastejando como um verme que tenta tapar
O buraco da prisão do karma.
As promessas ecoam mais no silêncio,
Então me deixe com a coroa de espinhos que me resta.
Mereço essa dor, mereço esse peso.

O esquadrão de choque revira meu estômago
Com a luz dessa sirene do farol de patrulha do karma.
Sou ladrão de escuridão
À procura da falha que sempre esteve aqui
Na prisão dos meus ossos numerados no campo de concentração
Que sufoca os distintivos que tentei roubar
Por ser meu próprio karma,
Por prender quem devia soltar.

sábado, 2 de dezembro de 2006

A(MOR)TE parte 1

Amor
Te amar
É morte
Amor
É morte
Te amar
É morte
É morte
É morte
Te amar
É morte
É morte
É morte.

...

Amor...?

AMOR(TE) parte 2

Olho para o nada porque lá está você.
E quando calo, sozinho, é porque não posso esquecer.
Se me comportasse direito talvez superasse o sofrer.
Mas sou rebelde e cafona que rima se não pode te ter.

Agora é a hora de enfrentar seu perigo.
Sentar na escada do teu paraíso,
Subindo para baixo quando, ignorado, digo
Eu só amo você.

Depois de tanto tempo perdido eu volto
Para dizer que cresci quando me achei solto,
Mas a faísca que resta vai me matando aos poucos.
Mesmo que você não mereça essa farpa em meu peito.

O que me dói é saber que não existirá igual,
E se insisto em mudar, você sempre estará no final.
Com versos que nunca poderei rimar,
A única pessoa que faz, na morte, amar.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Beijos

Adorei essa nova coleção
em mim.
Essas cores tão bonitas
me caíram tão bem!
A vaidade de faz querer ser eu.
Isso é inveja!
Tão cafona como o verão passado,
ultrapassado...
Se eu te falar na real -
odiei tua roupa.
Mas continue com ela,
porque assim me sinto melhor.
Sou mais,
Essa pele vale mais.
Enquanto só me divirto,
futilidade é o futuro.
Mas agora,
se eu te falar na real,
bem na real,
a-do-rei essa nova coleção
em você.

Beijos.