segunda-feira, 5 de maio de 2008

Lar, doce lar

O móvel fora do lugar.
Desconforto.
Estrelas brilham no porão
Enquanto o brilho do sorriso da TV
Conforta o vazio dos outros
No primeiro andar.

Vida de tricô.
Labirinto e ponto cruz
trançado e desmantelado com a navalha cega
No quarto da vó.
Não existe amor sem medo,
Mas existe sorriso sem dente.

Pelúcia e lubrificante
No armário da filha.
Beijo de batom no guardanapo
Como se fosse o palhaço de sua própria vida.
Difamação modelete,
Deixa a visita chegar.

Hormônio de cavalo no braço do filho.
E a régua que diz sempre a mesma coisa:
Inferior.
O cão trepando na perna da mesa.
E o pai vaiando o próprio time
A espera daquele GOL fenomenal.

A mãe repara que as flores de plástico estão empoeiradas.
Espanador.
Ninguém reparou o móvel fora do lugar.
O desconforto é por conta da casa.
E as estrelas continuam a brilhar no porão...
Perdidas.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

No porão? Eu não tenho porão...por isso não vejo estrelas? rs...



Bom dia!

7:22 AM  
Blogger Caldereta das Idéias said...

Minha família não é como essa, mas... quem não tiver uma família com problemas que atire a primeira pedra.
Sempre se acha um velho tio com sorriso sem dente, :/

beijos! (agora somos amigos de orkut, hahah)

10:19 AM  
Anonymous Anônimo said...

Esse texto me lembrou o posfácio que Affonso Romano de Sant'Anna fez para A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água:

"Estou implicitamente lembrando ao leitor aquela frase que volta e meia se ouve: 'Minha vida daria um romance'. Lamento informar, mas não daria. Ou melhor, daria se ouvida e/ou escrita por um romancista. Nas mãos de um não-romancista, seria mais uma história perdida. Um romance é, sobretudo, a forma como uma história é narrada. Por isso há romances praticamente sem história que, mesmo assim, são bons romances. [...] E Jorge Amado tinha um ouvido danado de bom para converter fatos particulares em narrativas de utilidade pública. Na verdade, é isso que o artista é e faz: é um indivíduo de utilidade pública. Está captando, redistribuindo e potencializando a energia que detecta com suas antenas especiais. Sim, o artista tem antenas especiais. Por isso, lamento também informar que, ao contrário do que afirma certa estética do facilitário, arte não é qualquer coisa que alguém chama de arte. Arte é algo feito por artistas, e nem todo mundo é artista."

Com isso quero dizer que:
1. nem todo mundo saberia falar do cotidiano com tanta simpatia e simplicidade.
2. esse texto é muito bom em toda sua simplicidade.
3. ando gostando mais desse blog a cada texto.

É isso.

Perdoe-me pelo comentário excepcionalmente imenso de hoje. rs

10:26 AM  
Blogger Luifel said...

Velho,

Toda familia tem suas particularidades mesmo, mas só digo uma coisa, que tenho como um "motu": Não há nada como o nosso lar.

Poema muito bom kra!

Abç.
`
PS: Já postei um poema no meu cara. (Vide "Papo Cabeça").

11:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Nosso lar é nosso abrigo em noites escuras, por pior que el possa parecer, né mesmo?

beijocas!

10:59 PM  
Blogger Pedro Willmersdorf said...

a classe média me fascina, lek.

10:51 AM  

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