terça-feira, 9 de janeiro de 2007

- Azul e Amarelo

Beijo a boca do fogão
e o gás me alimenta de carbono;
queimado vivo.

Cheiro branco dessa fila que furo
quem tiver que furar;
você sabe quem eu sou?

Sou o que você queria ser, eu sei,
Todos querem - mas só eu tenho sete vidas:
Uma a menos, por respirar.

Tendão esticado, escondo o pecado
Para não sujar os lençóis que Deus me deu -
Sou virgem sulfúrico.

A porta do inferno é burra como porta;
E eu exagero - minha língua encardida
É mutação genética: tenho febre

E a fome da Quimera que me engole vivo,
Corrói minha jóia de arsênico, faz o mundo girar -
Me enterre no seu quintal, por favor!

Bem longe do papel de bala que a rainha copula;
Bem perto do tamarindo que vai logo acabar;
É tudo teatro.

E grito “Cuidado! Cuidado!”, não me atropelem!
As lanternas engorduraram e eu, amor, não posso explodir duas vezes;
Apenas sorrio.

Minha luz te amedronta? prefiro o escuro;
mas meus lábios radioativos reluzem segredos
e balançam os berços.

Anêmonas balançam num mar sem estrelas;
E meu crânio paira solto na viga do viaduto como alga-morta,
Absorvendo os passos-terremotos.

O tiro de festim bate em meu peito e volta -
Queria saber atirar sozinho, e primeiro;
mas sem meu crachá de querubim-devasso.

Estou pronto para subir, amor, estou sim;
Mas sem bagagem, sem você, uma a menos -
fantasmas chegaram com o despertador.

Esse remédio me enjoa como caldo de galinha;
Sou flor comestível -
Teu arsênico de frutas.

E, às vezes, bem às vezes, atiço Deus e o diabo -
pensar demais é muito caro!
mas ainda bem, amor, que sempre pude te beijar.