terça-feira, 31 de outubro de 2006

sertanejo -

Quando encontrei o mar, encontrei a vida.
Quando encontrei o mar, minha visão cansada arrancou-se com a água que rola solta pelos paralelepípedos do pelourinho sem fim. Estava eu ali perante aquela estátua censurada, sinistramente sobreposta sobre meu calvário farpado - quando encontrei o mar, assim de repente; como abelha que morre pra buscar a vida perdida por entre os fortes solavancos daquele deserto de outrora, sem oásis, só deserto.
Achava que aquele azulão era uma miragem - felicidade em desconhecer o horizonte que me abraçava em sua imensidão. Os grilhões dissolveram aquecidos pela lava da vida borbulhando entre meus dedos pétreos, congelados com a brisa fria e leve daquele mar simples, mar de vem-e-vai, mar total.
Estava sendo acalentado por ninguém e me senti engolido pelo asfalto enquanto tentava abraçar o mundo. Quando vi o mar, as tatuagens do passado, que escaldavam em minha pele como brasão-de-boi, foram apagadas só de ouvir a zabumba da bonança ecoar no infinito que existe em meus ouvidos.
Aquele sussurrar das mais puras ondinas me fizeram involuntariar a vida, esticando os braços sobre o universo, e gritando com toda força dos pulmões para sentir o calor da voz, para sentir a temperança das estrelas. Quando vi o mar, não mais respirei, e aqui estou, até agora, sem saber o que fazer com tamanha beleza.
Quando encontrei o mar, morri.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Lindo!Lindo!Lembrou-me Vidas Secas...só que ainda melhor.

8:34 PM  
Anonymous Anônimo said...

AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH

8:36 PM  

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