quinta-feira, 7 de setembro de 2006

oito ou oitenta.

Mandíbula cansada de mastigar seu amor-chiclete, artificialmente concebido, entre aquela cama rasteira – grande o suficiente para caber meu sentimento ingênuo, que, de tão pequeno perante você, consegue engolir o mundo. Ouvi dizer que ninguém leva a sério essa minha lágrima abafada, infantil e posuda, mas, mesmo assim ela escorre, e eu também.
Nesse seu jogo, sou o peão mais trivial, com o rosto majestosamente empalhado nas paredes do seu quarto redondo, que me leva de volta a você nesse bumerangue corroído pelo chiclete que impede meus dentes tortos de sorrirem de verdade. Estancado como cimento rasgado, nesse chão listrado em que você apenas passa na velocidade que te agrada.
E se me toca, queima a pele. Se não me toca, queima os ossos. E minha alma cambaleia presa nesse mundo que respira você, e expira carbono, queimada e morta. Você me tem prisioneiro sem tocar nas correntes, e eu me tenho prisioneiro acorrentado no pilar inócuo que não consigo esconder, está aqui, nesse buraco no meu rosto, nesse grito que está prestes a rasgar como o controle perdido desde que vi seu rosto naquela tarde azul como a sua neblina que me cega desde então.
Eu devia saber que tudo seria só diversão, sem me acostumar ao ferimento com seus anzóis, sem me acostumar a lamber feridas do coração, meu único alimento, me queima devagar, me deixam preso nesse arco, em que cada passo me leva a você, no lugar certo, na hora errada. Eu devia saber que nunca poderia arranhar seu diamante polido, juntar as partes dessa máscara da sua festa no intervalo da conversa, cavando túneis circulares, pelo lado que me manda fugir, e beijando seu rosto coberto de sonhos, pelo lado que me manda ficar.
Grito para as pessoas, que bajulam seus interesses cobertos pela piedade vendida nessas visitas compradas, em que apenas calo, pois sou seu cúmplice secreto nessa ilusão construída nos meus momentos de ternura ensangüentada que talvez você nem queria enxergar. Essas paredes me irritam com o silêncio das rachaduras sufocadas e minha boca costurada com o fio do amor impossível, tênue demais para você se importar.
Oito ou oitenta. Ou te amo nesse jogo acorrentado, aceitando essa teia silenciosa e farpada; ou deixo tudo para trás, e me acostumo com a inércia da lembrança irreal de poder te amar algum dia sem paredes, sem rachaduras, sem quartos. Ou te odeio, ou te amo para sempre nessa miragem que escorre como o areia no deserto daquela tarde azul em que me perdi no seu sorriso, a mesma tarde azul em que perdi o seu sorriso, que nunca sequer chegou a ser meu.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

...A chuvinha fina da esperança
prometia um inverno que nunca chegou.
Plantamos a dourada semente de vida
mas a safra e a colheita não vieram.

Portanto, é melhor dizermos adeus
aqui nesta encruzilhada,
fazer prestação de contas
se é que ficou algum saldo.

Siga seu caminho, seguirei o meu.
Escrevemos nosso livro de lembranças,
podemos fechar o romance
mesmo sem um último capítulo.

Nossa imaginação tinha navegado
através de lagos e oceanos -
agora estamos na beira de um riacho
que parou de correr, falta de ninguém.

Foi tudo tão maravilhoso
quando os sonhos voavam livres.
Felizmente o céu continua azul,
nossas asas ainda pedem mais vento.

Assim, partimos sem rancores,
sem feridas nem cicatrizes.
Levamos corações mais afinados
para dançar outras valsas.

Pelas imutáveis regras do universo,
você continuará a ser parte de mim,
e eu parte de você para sempre
no ciclo de vidas entrelaçadas.

6:28 PM  

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