quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Pombo

Pela janela do edifício apagado
Ruído cinza, farfalhar desesperado.
O podre do mundo na pena sem lar -
E ossos vazios não podem esperar.

Num beco boêmio, procura almas claras
Com olhos cansados da vida estancada.
Soluços de milho na imensidão -
E bico selado, discreta expansão.

Só a frente enxerga, só o banco da praça.
E vaga sem rumo, cloaca desgraças.
O peito estufado, certeza fugaz -
Esconde indefeso coração leva-e-traz.

Sobrevoa fuligem de um mundo carnal
Bel-prazer cria afoito num sangue de cal.
A ninguém pertencer, e por todos passar -
Só precisa esquecer, e depois pode amar.