segunda-feira, 17 de julho de 2006

E eu que sempre pensei conseguir escrever tudo que sinto, me vejo parado a frente da luz dessa tela morta, ressuscitando a pele, pressionando as costelas para desafogar a farpa ideal, um fato etéreo, surfar nas tormentas que nem sequer chegaram a ocorrer, nesse masoquismo de letras pontiagudas, que exige disciplina, construo a cadência perfeita de uma alma trivial, sob regras escondidas, analógicas, perdidas.
E eu que não ouço a inspiração, coleto miséria no poço da garganta inflamada com o lodo do mundo dos meus tecidos, exalando meu peso nessa tela morta, e a pressão interna sempre adaptada, descobrindo que, para nadar, precisa-se mergulhar e se livrar dos espinhos da cama de flutuar, vendo a vida pelos poros e não pelas nuvens de esponja do céu.
E eu que por um momento me inflei de montanha, dançando no vácuo, agora busco apenas um sorriso verdadeiro nessa grande festa, em que ninguém se conhece, e apenas bóiam - sem feridas de letras, sem caixotes imaginários, sem inflamações do plasma, sem nada criar, pois copiam a arte da superfície calada, enquanto as correntes puxam os pés-de-pato lá embaixo, emergidos no tudo e no nada.
E eu que sempre pensei que a arte fosse fácil, mas tudo isso, foi só antes de me conhecer.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Auto-retato de um Gênio

12:33 AM  

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