quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Janela Indiscreta

Me diz logo o que é isso que você esconde embaixo da escada, por onde todos passam até o teu quarto perto do céu.
Me diz que bicho é esse que balança teu armário, ou teus medos não existem sobre essa pilha de roupas velhas?
Eu andei tanto para chegar mais perto, e nunca é perto, parece que andei em vão.
Ao ter o rosto coberto, nesse surrealismo real, do teu mundo distante da dor que tento te mostar, mas perto do prazer que a sucede.

E esperar a pele enrugar depois de tanta demora sobre a sua porta de aço.
Não esperava teu corpo despido, apenas uma conversa que afagasse a ternura dessas flores que te trago do lugar que nunca deixei de estar:
Do teu gramado de adubos químicos, do lado de fora dessa casa apertada.

Parece que te conheço há milênios, mas o que eu realmente conheço?
Parece que tuas respostas são só para a campainha que toca quando chegam novos convidados, e nunca para as minhas perguntas.
Então continuo a esperar do lado de fora, a par de toda festa que só conhece esse teu lado bem-vindo.
Sei as regras do teu jogo, então porque temes que eu ponha tudo a perder se não fizer mais parte dele?

Os teus segredos te confortam ou te isolam quando a noite solitária uiva pelas frestas nas tuas janelas?
O quão seguro é esse cimento das paredes que você jura suportar a tempestade?
É por causa dele que você ainda não me conhece?
Continuo aqui nesse interlúdio, buscando demolir suas portas e janelas trancadas, nessa amizade cega que só quer, no fundo no fundo, te entender sem vidro nas noites sem-teto.