quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Andava tão tristonho só de pensar na tristonheza das infinitas noites-viaduto, desabrigadas, com aquele vento uivante feito catapulta arremessando um pó pesado dos problemas, antes cacos, que ele nem se lembra mais.
Andava pelos becos como prostituta, de uma santa alma perdida que pudesse esnobar a mesquinharia da sua ironia burra, vendo a redenção numa gota de piedade do exaurido sonho de confetes em Finados, aquele velho e bom dia de esmola.
Andava com um sorriso de canto-de-boca, acanhando o hospício da nebulosa do seu céu pendular, ora de dentes com esmalte supernova, reluzindo a festa cor-de-rosa, ora negros-buracos, que só sabem, epicentro, as tragédias aumentar.
Andava atropelando os cadáveres engravatados, com uma aviltez que atentava o pudor puritano das madres terezas pregadoras de um amor maior do que aquele seu amor diferente, por nada e por ninguém, meio assim efluente, nem tão são, de Sol poente.
Andava mudado, cara a tapa acamurçado e já olhando para o próprio umbigo, que servia de abrigo para a concha incongruente, protegendo a malícia inocente daquela velha notícia de querer se encontrar.
Andava enaltecido, cheirando o pó dos problemas, com anticorpos-algemas e adrenalina pé-na-tábua, retroagindo as mágoas nessa piracema da vida - aquela eterna corrida que anda aquém, anda depressa, num quebra-cabeças revés, continuava engolindo as peças - através da correnteza, através de si andava.